É sobre herança, silêncio, dever, dor — e o preço de ser um homem de verdade.
Provavelmente você já assistiu O Poderoso Chefão – se não, você PRECISA assistir – e com certeza teve vontade de se mudar pra Itália, comprar um terno e tentar entrar pra Cosa Nostra.
Todo mundo sente isso quando assiste a primeira vez.
Não atoa o filme foi indicado à vários prêmios, ganhando 4 Globos de Ouro e 11 indicações para o Oscar, ganhando 3 delas – Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado.
Além disso, a trilogia (sim, são 3 filmes) conta com um elenco absurdo: Marlon Brando, Robert De Niro, Al Pacino, James Caan, Talia Shire e outros monstros do cinema.
Mas por que não é sobre máfia?
O Poderoso Chefão não é o que o fã de tiro, porrada e sangue acha que é. É um drama familiar com “código de homem” à flor da pele.
Claro que o plano de fundo fala sobre máfia, mas o cerne do filme é sobre lealdade, sacrifício e o peso de herdar algo que você nunca pediu, mas entende que é necessário para manter as coisas nos trilhos.
E essa é a parte da vida real.
Quantos homens não vivem exatamente isso — fora da máfia (eu espero), mas dentro de estruturas familiares, sociais ou emocionais que impõem um dever que eles não escolheram?
Quantos se tornaram “homens da casa” ainda adolescentes?
Quantos carregam o peso de sustentar emocionalmente uma mãe, uma irmã, uma família inteira — sem nunca terem sido preparados pra isso?
Quantos viram o pai sumir, falhar, falecer e tiveram que assumir o papel sem nunca pedir por ele
Don Vito Corleone: o poder silencioso
Vito Corleone é pura presença.
Ele é o chefe da família Corleone.
Um homem que já tem certa idade, mas com uma aura fora do comum.
E isso não se destaca pela violência, mas pela frieza calculada com que toma decisões — e pelo peso que cada uma carrega.
Ele fala baixo, é educado, tenta ser o mais justo possível, mas espera algo em troca. Nada mais justo.
Don Corleone tem um equilíbrio emocional que só a experiência consegue proporcionar.
Michael e a transformação do Homem
Michael – o filho mais novo de Vito Corleone – inicialmente está fora do mundo dos negócios da máfia e da família. Michael é um ex-soldado da Segunda Guerra Mundial, educado e com um futuro promissor fora dos negócios criminosos.
No entanto, quando seu pai é atacado, Michael se vê envolvido diretamente na proteção da família.
A primeira grande DECISÃO de Michael acontece quando ele toma a dianteira e se vinga de Sollozzo e do policial corrupto, o capitão McCluskey, que estavam envolvidos no atentado contra seu pai.
Essa cena se passa num restaurante.
Michael entra no restaurante como filho. Sai como homem. E nunca mais volta a ser o mesmo.
E é aqui que você separa os homens dos meninos:
Ser homem não consiste em levantar 5:00 a.m. e tomar banho gelado.
Você se torna um homem quando entende que vai precisar tomar decisões e lidar com o peso de cada uma delas.
No filme, Michael poderia ter deixado aquela situação passar. Mas não.
Apesar da consequência negativa, ele tomou a decisão.
Trazendo isso pro mundo real, podemos traçar um paralelo com as decisões que tomamos no trabalho, no relacionamento, com os filhos, parentes… E sabemos que não conseguimos agradar à todos.
Honra e Código
No filme, a palavra tem muito peso. Coisa que não vemos muito hoje em dia.
E honra e código são coisas levadas à sério.
No filme, a honra aparece como uma tradição de respeito, nome, sangue e legado. Não é negociável, mesmo que custe tudo.
Honra é o que se mantém mesmo quando ninguém está olhando.
O código é um sistema. Um conjunto de regras.
No filme, é o código da máfia e da obediência à família — acima de tudo.
O código manda matar, esconder, negar, fugir, obedecer — mesmo quando o homem não quer.
Na vida real, honra são os princípios que regem sua tomada de decisão. Algo que você precisa fazer, caso não, você nem conseguiria dormir direito.
Quem você protege? Quem você ajuda? À quem você deve gratidão ou favores? Com quem você se relaciona? E com quem você NÃO se relaciona?
O código é COMO você faz tudo isso.
Você pode ajudar alguém sem tornar isso público. Pode recusar um convite ou a convivência com alguém sem humilhar. Pode cobrar lealdade sem gritar. Isso é código.
O preço das escolhas
A história de Michel não é uma história de vitória. É uma história de sacrifício.
No fim, Michael é o homem mais poderoso — e mais sozinho.
Ele venceu a guerra. Protegeu a família. Manteve o nome.
Mas enterrou a própria alma no processo.
E é aqui que mais uma vez temos que saber separar a ficção do mundo real:
Não adianta ser respeitado no trabalho e esquecido pela esposa.
Não adianta prover tudo para sua família, mas não estar presente.
Não adianta proteger todo mundo e perder a si mesmo.
O homem que carrega tudo sozinho morre por dentro. Quem perde não é só você.
E não é esse o fim que a gente quer.
Se o filme termina com Michael sozinho, é porque ele venceu o jogo errado.
A pergunta que fica pra nós é:
Qual jogo você tá jogando?